O por quê de tantas provas na raça Dogue Brasileiro

A um observador desatento pode parecer exagerado haver treze provas e dois títulos a serem considerados na raça Dogue Brasileiro. Bem, antes de tudo, vamos lembrar que as provas e os títulos são elementos de seleção genética. Algumas raças selecionam seus cães de maneira que o equilíbrio das qualidades dos cães são avaliados em conjunto, e as provas são gradativas aprimorando a seleção (exemplo: IGP1, IGP2 e IGP3).

Dessa forma, cães com grandes qualidades em um determinado fator podem ser eliminados da seleção pelo fato de não possuir apenas um dos fatores. Por exemplo, um cão que tenha um drive de proteção muito acentuado poderá ter grandes dificuldade no controle durante as provas de proteção, mas esse mesmo cão pode ser o ideal para cobrir cadelas com um mesmo drive abaixo do desejável.

Assim sendo, o Bull Boxer Club (BBC) optou por criar um elenco de provas que dissecam o temperamento de cada cão. A Prova G é a única que avalia o equilíbrio entre os drives e o controle de forma geral. Um cão aprovado na Prova G comprova ter capacidade de proteção e controle. A Prova O comprova a capacidade de obediência, mas não o controle sob stress. A Prova T (a qual o cão certifica que foi aprovado em prova que não faz parte das provas específicas do BBC) é mais um incentivo para que nossos cães disputem e apareçam em outros contextos que não os internos do clube. A Prova S não é exatamente um demonstrativo de superioridade, mas, sim, da tendência do cão a se portar na defesa ou na agressão social de forma demonstrável. Lembramos aqui que quando um drive é muito pronunciado ele é o único demonstrado, principalmente no pré-ataque, o que de forma alguma significa que o cão não tenha outros drives agindo concomitantemente ao drive aparente. No passado, havia quem dizia que um drive não pode conviver com outro, algo com o qual nunca concordei, pois tal premissa desconsiderava a existência do sistema límbico nos caninos. A Prova G é inequivocamente um referencial de qualidade do cão na proteção. Mas, um cão que tenha um drive de rapina (caça) muito elevado por não conseguir superar essa prova em função dos drives e controle se contraporem. Pois bem, este último exemplar pode ser o melhor para cobrir uma cadela com baixo drive de rapina. Por isso, cremos, que um sistema de seleção que apenas selecione o conjunto e nunca as partes pode não ser o mais eficiente e muito mais rápido em seus objetivos.

Vejamos, não é interessante fecharmos a criação com exemplares que tenham a Prova S, nem é interessante fazermos o mesmo com exemplares que não a possuam mesmo havendo tentado fazê-la. Uma seleção equilibrada entre esses dois grupos é a ideal. O mesmo diremos sobre a seleção em cima da Prova A/a. Sabemos que a distinção A é concedida aos exemplares que passem na referida prova até os dez meses de idade incompletos e que a para os que passem após tal idade. A prematuridade, via de regra, está associada a uma maior tendência ao volume de uma característica bem como ao replique genético dessa mesma característica. A seleção somente com cães A pode induzir à exacerbação dos drives de proteção, o que não é recomendável. O ideal é que A mantenha uma proporção de 50 a 75% e a de 50 a 25%. Portanto, o contexto é bem mais complexo do que apenas do que uma conclusão binária e reducionista de “bom” ou “ruim”.

Existem as demais provas, além de A, G, S e T. Na Prova B, avaliamos a capacidade do cão reagir ao inesperado, ao susto. Na Prova D, a capacidade emocional do cão de enfrentar dois figurantes que exerçam  sobre ele pressão psicológica, bem como a inteligência emocional do cão de saber manter o foco num sem desconsiderar o outro, atacando a ambos em momentos (pouquíssimos segundos após) distintos. Na Prova F, a capacidade do cão reagir a uma penetração sutil e furtiva a seu território. Na Prova I, a capacidade de reagir a uma penetração ostensiva e violenta ao mesmo território (estas duas provas se completam em relação à função). Na Prova M, a qualidade do cão realizar um ataque conjunto com outro cão do mesmo sexo sem perder o foco e ter como objeto do ataque o figurante. Na prova O, a capacidade do cão obedecer e ter controle sem estar submetido ao stress. Na Prova R, a capacidade do cão suportar os mais diversos tipos de pressão, jatos d’água, baldes de água jogados sobre ele, objetos que produzam efeitos sonoros quando lançados sobre ele, objeto que o encobre e lhe tira a visão, a manga (à qual o cão não poderá reter, mantendo o foco no figurante), o abrir de um guarda-chuva em frente ao cão, a explosão de um artefato explosivo moderado (que não lese seus ouvidos), latões que serão atados a seu peitoral ou coleira e serão arrastadas enquanto o cão invente sobre o figurante o “perseguindo” e causando som desconcertante à sua retaguarda e, por fim, o figurante que tentará afugentá-lo com o uso de bombonas cheias de pedras assustadoras e barulhentas. O cão deverá passar por tudo isso em uma só prova e morder com contundência o adversário. A Prova V que comprova que o cão com mais de dez anos ainda mantém, pelo menos parcialmente, suas qualidades. A Prova X, que será o mesmo que a Prova M, mas menos rigorosa, já que é com o sexo oposto.

Temos também dois títulos, o Título E/e, que é concedido aos cães com boa morfologia em relação ao padrão da raça, e o Título Q que confere ao cão, através de exame genético laboratorial, a inexistência de doenças geneticamente transmissíveis conhecidas.

Pois bem, todo esse conjunto de provas e títulos vem dissecar todo o temperamento, morfologia e saúde do Dogue Brasileiro. Por isso ser tão complexo, já que a boa seleção é complexa.